martedì 17 marzo 2015

VIII - Publicações da Associação IL Presidio - Centro Studi


Francesco Bindella

FOME DA PALAVRA

Ia Semana de Mobilização Científica
da Universidade Católica do Salvador

Texto do Minicurso


Collectio Praesidium Bahiense n. 2
Edições São Bento; Salvador Bahia, 2004; pagg. 88


 Síntese

            «Fome da Palavra» - da Palavra «de Deus» - é o título do nosso Minicurso que saiu como uma das possíveis respostas à pergunta: «Fome de quê?», título geral e programático desta VIa SEMOC (Semana de Mobilização Científica da Universidade Católica do Salvador).
Vai logo aparecer - e não menos surpreender - esta direta correlação entre Palavra e Fome que parece até paradoxal, sendo duas categorias sem aparente relação. Falar de «Fome da Palavra» significa reconhecer a esta Palavra um valor ‘alimentar’ ou ‘nutricional’; significa também reconhecer uma apetibilidade e, portanto, um ‘sabor’ a esta Palavra, sabor que pode ser doce ou amargo, agradável ou não, satisfatório ou não.
E aqui se coloca o próprio objetivo deste Minicurso. A nossa pesquisa será claramente relativa ao âmbito bíblico e - a este respeito - a questão preliminar que deveria ser considerada, será se «Fome da Palavra» é categoria bíblica em sentido próprio.
Neste caso, não teria receio de antecipar uma resposta que acredito, sem dúvida, positiva à luz dos vários textos bíblicos que tratam de forma explícita deste assunto. E’ quanto agora iremos considerar.
Quanto à questão metodológica, o nosso intuito - assim como em todas nossas obras - é sempre aquele de associar o compromisso científico na análise dos textos com o compromisso de aprofundamento espiritual. Uma metodologia "complementar", portanto, e ao mesmo tempo - e por mais que possível - unitária.
Em relação ao tema específico do nosso Minicurso, o itinerário de desenvolvimento aqui previsto, irá conceder amplo espaço também ao relacionamento da Palavra com o Nome, dentro do âmbito conceitual bíblico, podendo ser ampliado nos termos: Fome da Palavra, Espera do Nome e encontrando-se, na parte final, como o tema bíblico da ‘deificação’.


 Apresentação
      da Prof. Judite P. Mayer*

            Desde o início, o tema «Fome de quê?», da VI Semana de Mobilização Científica da Universidade Católica do Salvador, fez com que o Instituto de Teologia sonhasse com a possibilidade de apresentar um mini-curso sobre a «Fome da Palavra de Deus».         Foi assim: «Uma palavra certa, na hora certa e do jeito certo», como diz Pe. Zezinho. Aconteceu entre o sonho e sua realização, a possibilidade: encontramos pela primeira vez o professor Francesco Bindella. Fizemos-lhe a proposta de participar da VIa SEMOC. A resposta ao convite se encontra no belo texto, aqui oferecido, que nos desafia a prestar atenção nas pequenas diferenças. Elas estão escondidas nas entrelinhas das Sagradas Escrituras.
            Ao contemplá-las, vamos percebendo um novo sabor nutrindo a fome que buscamos saciar: o descobrir que entre encontrar e achar existe uma diferença que supõe o reconhecer; passear nas entrelinhas do texto, indo da palavra à voz, da voz ao nome, do nome ao ser, da proclamação do Nome que nos conduz, na Encarnação, à Palavra como declaração do amor e misericórdia.
            E o autor nos aponta: «Comer é assimilar ... assimilação da substancialidade da Palavra faz viver no plano do Espírito». Como não foi diferente no deserto, quando o Senhor conduziu seu povo «sem que as vestes envelhecessem e os pés inchassem» (Dt 8,4), dando-lhe no tempo certo e, na medida certa, o maná, assim também, não será diferente durante o passeio que nos conduz Francesco.
            Vamos aprendendo a bem ruminar a Palavra e dela tirar o que de melhor encerra para alimentar nossa vida de proximidade com o Nome. Aos poucos vamos degustando a novidade da Palavra que é uma só.
            No primeiro livro desta série, prof. Giorgio falava do texto como «tira-gosto que desperta o apetite». Dando continuidade ao trabalho iniciado, diríamos que no segundo da série iniciamos a refeição. Temos certeza que os participantes do mini-curso o esperam com voracidade prevendo a possibilidade de revisitar o momento em que pela primeira vez provaram desta refeição.
            É pois, com prazer, que apresentamos o alimento que nos oferece o professor Francesco Bindella desejando que ele possa contribuir para satisfazer, em parte, a fome inesgotável que sentimos, na busca do Deus que se entrega a nós como Palavra desde a Criação, e que em plenitude se revela na Encarnação desde o momento da anunciação.
Salvador, 25 de março de 2004
* Diretora do Instituto de Teologia da Universidade Catolica do Salvador

 
 Recenção
        da Revista «Análise & Síntese», Revista de Filosofia e Teologia do Instituto Teologico S. Bento, Ano II-2003, n. 4, Salvador
        Bahia; autor Dom Gregório Paixão OSB.

“Fome da Palavra", originalmente apresentado no VI Semana de Mobilização Científica Universidade Católica do Salvador, faz parte da "Collectio Praesidium Bahiensede textos que, como a correspondente italiana "Collectio Praesidium Assisiense" procede a uma revisitação de temàticas bíblicas , teológicas e espirituais a partir do fundamento bíblico do nome divino “EU SOU”.
Mais uma vez, Francesco Bindella supera nossas expectativas, trazendo-nos novidades sobre o tema do Nome e, principalmente, esclarecendo questões estilísticas fundamentais no que tange às traduções apresentadas nas diferentes traduções do texto sagrado.
Para completar seu trabalho, vemos, em apêndice, um estudo profundo sobre o texto da anunciação do Anjo a Maria quando o autor mais uma vez direciona nosso olhar sobre um dos textos mais caros ao cristianismo.
Portanto, o referido texto é uma leitura obrigatória para os que desejam se aprofundar nas Sagradas Escrituras.


 ÍNDICE
Apresentação
Introdução

Parte Primeira
Fome Da Palavra - Espera Do Nome

 Capítulo  I°
FOME DE PÃO, FOME DE PALAVRA
§ 1.        «Nem só de pão ...»
§ 2.        ‘Substancialidade’ da Palavra bíblica

 Capítulo  II°
A “COMIDA” DAS PALAVRAS
O texto de Jeremias 15,16
§ 1.        As Palavras “achadas”
§ 2.        A “comida” das Palavras’
§ 3.        Conseqüências do comer: «exultação e alegria»
Nota sobre o conceito bíblico de “transcendência”
§ 4.        A «chamada do Nome»
               e a ordem de relação entre Nome e Palavra
§ 5         A constante bíblica da antecedência do Nome-raiz
em relação à Palavra-Fruto

 Capítulo  III°
NOME - VOZ - PALAVRA
SINTAXE BÍBLICA DA LINGUAGEM
§ 1.        Entre o Nome e a Palavra: a Voz
§ 2.        «Eu Sou» Palavra
A Voz: declamação do Nome;
A Palavra: declaração do Nome
§ 3.        A pergunta sobre a Palavra que tem poder:
Lc 4,36-37
Conclusões
§ 4.        Fome da Palavra, ‘Espera’ do Nome

Parte Segunda
Fome da palavra
Na perspectiva bíblica da ‘deificação’

 Capítulo  IV°
COMIDA DO FRUTO DEL 'LENHO'
E PROMESSA DE ‘DEIFICAÇÃO’
§ 1.        Comida do fruto do ‘lenho’ do Éden
               e conseqüências
§ 2.        O projeto da 'deificação' na Escritura
§ 3.        O 'outro' projeto de deificação 
               e o diferencial representado pela kénosis
§ 4.        «Ser como Deus»: ambivalência de ‘pecado original’
e ‘deificação’
Nota sobre o «pecado original» na catequese e
pregação cristã
§ 5.        A ‘pedra’ e o ‘tijolo’:
               o projeto original e sua imitação
Excursus:
Sobre a logica das tentações
e sobre o discernimento entre o Bem e o Mal,
o Verdadeiro e o Falso
§ 5.        O Fruto do novo 'lenho',
               a cumprimento da Fome da Palavra

 Capítulo  V°
O TEMA DA ‘DEIFICAÇÃO’
NA PERSPECTIVA BÍBLICA
E NA TRADIÇÃO  MÍSTICA OCIDENTAL  
§ 1.        O tema da ‘deificação’ na perspectiva bíblica
§ 2.        O tema da deificação na tradição Mística ocidental
«Ser por graça aquilo que Deus é por natureza»
§ 3.        A lógica do amor
               a) O amor que «iguala os amantes»
               b) O amor que torna ‘inferior’ quem mais ama
c) O «Deus de Deus»

  Apêndice
SABOR E VITALIDADE DA PALAVRA ORIGINAL
EM RELAÇÃO ÀS TRADUÇÕES
Ensaio: «Kekharitôméne»:  o 'Nome' de Maria na Anunciação 
(Lc 1,27-28)
Introdução
O texto de Lucas 1,28-29
a)   A «entrada» do Anjo
b)   "Kháire"
c)   "Kekharitôméne"
d)   O Nome 'de' Maria
e)   A Palavra da 'saudação' e sua causalidade
f)    A reformulação da experiência da Palavra,
      entre 'inquietação'  e 'exultação'
g)   A pergunta de Maria e sua implícita intencionalidade
      

 Da Introdução
      
Uma das referências mais famosa ao tema da «Fome da Palavra», e que todo mundo certamente conhece, é contida naquele texto evangélico que representa a resposta de Jesus ao desafio da primeira tentação: 

«Nem só de pão viverá o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus»
(Mt 4,4 > Dt 8,3).

Os termos da tentação são notórios: «Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães» (Mt 4,3). O sentido bíblico da tentação é, substancialmente, o de aceitar e secundar uma «lógica de homens» (ta; tw' ajqrwvpw) em lugar de uma «lógica de Deus» (ta; tou' qeou). A lógica de homens é uma lógica de apropriação, a lógica de Deus passa sempre pelo ‘esvaziamento’ da kénosis (Fl 2,1-10). Jesus chama de ‘Satanás’ Pedro quando queria impor-lhe uma lógica de homens que não passasse pela kénosis, expressiva da lógica de Deus (Mc 8,33). (Tudo isso retomaremos no Cap. IV, § 3).
O texto vai colocar uma questão fundamental de antropologia bíblica: ninguém duvida da necessidade elementar pelo homem de se sustentar, de ‘viver’ de pão; o que Jesus vai acrescentar aqui é a necessidade igualmente essencial de viver de outro tipo de pão representado pela Palavra, a Palavra que - com uma citação literal da antiga Torá: Dt 8,3 - «sai da boca de Deus».
            A esta Palavra Jesus atribui um poder ‘alimentar’, ‘nutricional’, comparável àquele do pão.
Nem, na sua resposta, Jesus quer enfatizar a necessidade do primeiro tipo de pão, sendo coisa até mais elementar. O que ele quer enfatizar é a necessidade do segundo alimento: a Palavra, como de uma necessidade igualmente elementar e imprescindível do homem.
Dentro deste quadro antropológico-bíblico, um homem que tem fome só de pão, seria um homem que não conhece (ou não conhece ainda) a sua verdadeira e completa dimensão que é uma dimensão não apenas de imanência  e sim de transcendência.
A diferença entre uma antropologia bíblica e uma antropologia ateísta ou simplesmente imanente se poderia reconduzir à diferença entre um homem que está com o céu aberto sobre ele, e um homem que está com o céu fechado, que mora dentro do espaço limitado dos seus quartos como único espaço e horizonte de vida. E vive a sua vida passando de um quarto a outro, debaixo do céu do seu teto. A fome que ele tem e que ele conhece, é fome de pão, do pão do padeiro.
            Para o homem bíblico, que tem aquele espaço ilimitado sobre si, a fome não se restringe ao primeiro tipo de pão, a sua procura é também relativa a outro tipo de pão, o pão da Palavra. 

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